Lipedema é a deposição anormal de gordura em glúteos e pernas, bilateralmente, que pode ser acompanhada por sensação de inchaço ortostático. Foi descrito pela primeira vez em 1940 pelos doutores Edgar Van Nuys Allen, cirurgião cardiovascular, e Edgar Alphonso Hines Jr. na Mayo Clinic. Eu acrescento, hoje, que o exame clínico sugere que essa gordura possui um componente inflamatório, muito relevante.
O nome “lipedema”, que sugere o “inchaço” do tecido gorduroso, não ajudou na propagação do conhecimento desta doença, por vários motivos, como a proximidade com o termo “linfedema”, um dos seus principais diagnósticos diferenciais, ou com o termo “lipidemia”, que seria a alteração do colesterol no sangue, “lipoma” deposição benigna de acúmulos de gordura, confundindo o paciente, e mesmo a comunicação de seu diagnóstico para outros profissionais de saúde. É muito comum o paciente dizer: “eu tenho lipedema” e o próprio médico corrigi-lo: “você deve estar se referindo à linfedema”.
Tem também um aspecto fibrótico, sendo definido como o crescimento, endurecimento e ou cicatrização de vários tecidos. É atribuído ao excesso de deposição extracelular de componentes da matriz, incluindo colágeno, e aos eventos inflamatórios. Sendo o resultado final de reações inflamatórias crônicas, induzidas por estímulos diversos, infecções persistentes, reações autoimunes, respostas alérgicas, dano químico, radiação e dano tecidual. O lipedema é, assim sendo, uma doença vascular linfática, que acarreta a deposição de gordura em membros associada a inflamação crônica de baixo grau.
A ausência do edema depressivo, aquele que, quando pressionado, forma concavidade na pele, sugere a existência desta doença. Havendo diagnósticos diferenciais mais frequentes e muitas vezes concomitantes, sempre foi mais fácil culpar as comorbidades pelos sintomas. Sem o sinal típico de edema, com um nome duvidoso, sem exame definitivo, sem sintomas objetivos, esta doença ficou esquecida e relegada a segundo plano, sendo resgatada apenas em casos extremos, de exceção, em que outro diagnóstico não era possível.
Como esperado, o lipedema é frequentemente confundido com condições mais frequentes, como obesidade e linfedema. Embora tenha sido inicialmente descrita nos Estados Unidos, os avanços mais recentes surgiram na Europa, e mais especificamente na Alemanha. Outro aspecto que dificulta o diagnóstico é a evolução lenta, crônica e progressiva da doença: eventos agudos chamam a atenção, requerem intervenção imediata, demandam tratamento, e eventos crônicos e lentos podem ter seus sintomas atribuídos a outras causas, e, lentamente, vão assumindo as rédeas da situação, até que, bem tardiamente o próprio paciente não tem como negar a sintomatologia, mas tem dificuldade em dissociar de sua história de vida.
- Amato MCM. O Segredo da Longevidade. 2023
- Amato, A. C. M., Amato, J. L. S., Amato, F. C. M., Benitti, D. A., Amato, J. L. S., & Benitti, D. A. (2022). Prevalência e fatores de risco para lipedema no Brasil. Jornal Vascular Brasileiro, 21, 1–11. https://doi.org/10.1590/1677-5449.202101981
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Amato, A. C. M., Amato, F. C. M., Benitti, D. A., & Amato, L. G. L. (2020). Criação de questionário e modelo de rastreamento de lipedema. Jornal Vascular Brasileiro, 19, 1–7. https://doi.org/10.1590/1677-5449.200114